Nos últimos tempos, as tecnologias de aprendizado de máquina IA têm adentrado os campos artísticos de maneiras inovadoras, tanto benéficas como maléficas. Por um lado, há aqueles que utilizam a IA para criar conteúdos audiovisuais inofensivos e entretidos, enquanto que, por outro, há aqueles que acreditam estar democratizando a indústria da animação, quando, na verdade, estão, de maneira equivocada, reproduzindo o trabalho de outros artistas e gerando resultados mais complexos do ponto de vista tecnológico.

Um exemplo dessa última vertente é um recente curta-metragem de anime feito por IA, criado pelos auto-denominados “democratizadores” da indústria da animação. Esse curta-metragem, que contém personagens fictícios, se passa em um mundo mágico, onde a natureza e a tecnologia convivem em harmonia. Na trama, os personagens se envolvem em uma disputa pela posse de um objeto mágico, que os ajudaria a concretizar seus desejos.

Embora a premissa pareça original, uma análise mais detalhada revela que o roteiro foi plagiado de outros trabalhos. Além disso, a qualidade da animação é apenas satisfatória, indicando que o processo de produção exigiu muito mais recursos e esforços do que o prometido pelos criadores. Em vez de democratizar a indústria, eles acabaram por aumentar a complexidade e a exigência tecnológica da mesma.

Não obstante, é importante destacar que o uso da IA no campo artístico pode ser muito benéfico, uma vez que permite uma maior eficiência e diversificação na produção de conteúdo. Contudo, é preciso que se faça uso da tecnologia de maneira ética e responsável, sem recorrer a práticas fraudulentas ou imorais. Afinal, a verdadeira democratização da indústria da animação só será alcançada quando houver um verdadeiro incentivo à criatividade e à originalidade, e não apenas uma mera reprodução dos trabalhos alheios.

No início desta semana, o Corridor Digital, um renomado estúdio de produção de vídeos de cultura pop com sede em Los Angeles, lançou um vídeo intitulado “Anime Rock, Paper, Scissors”. O curta, que foi escrito e dirigido por Niko Pueringer e Sam Gorski, gira em torno da história de dois gêmeos que disputam pelo trono que ficou vago após a morte do seu pai.

A disputa acontece em um jogo de pedra, papel e “lâmina gêmea”. O vídeo é uma verdadeira obra-prima, que consegue misturar a tecnologia de aprendizado de máquina e a rotoscopia assistida, produzindo uma aparência dramática de anime nas imagens filmadas com a câmera na frente de uma tela verde.

O processo utilizado pelo estúdio Corridor Digital foi o modelo Stable Diffusion de texto para imagem de aprendizado de máquina, que permitiu que as imagens fossem trabalhadas de maneira mais sofisticada, tornando-as ainda mais realistas. O resultado final é uma animação de alta qualidade, que impressiona tanto pelo nível de detalhamento quanto pela precisão das animações.

O vídeo já está disponível para visualização no YouTube e promete encantar e surpreender os fãs de anime e cultura pop em geral. A Corridor Digital é conhecida por suas produções de alta qualidade e este vídeo não é exceção. É um exemplo perfeito de como a tecnologia pode ser usada de forma criativa para produzir obras de arte verdadeiramente impressionantes.

Para Niko Pueringer, um dos criadores do estúdio Corridor Digital, é parte da natureza humana tentar visualizar coisas que não existem. Em um vídeo separado do YouTube intitulado “Did We Just Change Animation Forever?”, ele aborda a democratização da animação e a importância da criatividade e liberdade criativa nesse campo.

Segundo Pueringer, a animação 2D tradicional é um dos meios mais criativos e libertadores, mas também é o menos democratizado. Ele afirma que são necessárias pessoas extremamente habilidosas para desenhar cada quadro de um filme animado. No entanto, ele acredita que criaram uma nova maneira de animar, que permite transformar a realidade em um desenho animado.

Essa nova técnica é baseada na tecnologia de aprendizado de máquina, que possibilita a criação de animações de alta qualidade de maneira mais acessível e democrática. Segundo Pueringer, essa é mais um passo em direção à verdadeira liberdade criativa, onde é possível criar qualquer coisa com facilidade.

O estúdio Corridor Digital está sempre em busca de novas técnicas e tecnologias para aprimorar suas produções. Com essa nova forma de animação, eles esperam inspirar outros artistas e criadores a explorar novas possibilidades e expandir seus horizontes criativos. Afinal, a verdadeira liberdade criativa só pode ser alcançada quando há acesso igualitário às ferramentas e tecnologias necessárias para criar.

Em um comentário fixado abaixo de seu vídeo, Niko Pueringer, um dos criadores do estúdio Corridor Digital, deixou claro que sua técnica de produção de animação baseada em IA não tem como objetivo substituir animadores humanos. Ao contrário, a ideia é criar uma maneira mais acessível e eficiente de dar vida a ideias visuais sem a necessidade de um grande estúdio de animação com um orçamento enorme.

Pueringer acredita que sua técnica pode permitir que pessoas comuns, ou mesmo pequenos grupos de amigos, possam dar vida a suas ideias malucas e criativas. Ele menciona a possibilidade de eliminar a montanha de trabalho que é necessária para se produzir uma animação de alta qualidade. Segundo ele, sua técnica também pode ser usada para automatizar tarefas repetitivas, como pintar e colorir desenhos.

Além disso, Pueringer destaca que a criação de ferramentas de IA controladas pela comunidade é essencial para democratizar o acesso a essa tecnologia. Ele argumenta que, se essas ferramentas forem controladas apenas por empresas, elas acabarão se tornando ferramentas proprietárias e fechadas, o que limitaria a capacidade de inovação e criatividade na animação.

Em resumo, a técnica de animação baseada em IA desenvolvida pelo estúdio Corridor Digital não é uma ameaça à profissão de animador, mas sim uma maneira de tornar a animação mais acessível e democratizada. Ao compartilhar sua jornada e desenvolver ferramentas de IA controladas pela comunidade, eles esperam inspirar outras pessoas a explorar novas possibilidades e expandir seus horizontes criativos.

Em um e-mail enviado ao Kotaku, Niko Pueringer, um dos criadores do estúdio Corridor Digital, enfatizou que embora seja possível treinar um modelo de IA para aprender os estilos de muitos artistas, não se deve supor que esse seja o único uso da tecnologia na animação.

Embora a tecnologia de aprendizado de máquina possa aumentar a eficiência na produção de animações, há preocupações legítimas sobre o impacto da IA no mercado de trabalho e na qualidade das produções. Com a automação de tarefas que antes eram realizadas por artistas, é possível que muitas profissões, incluindo a de animador, sofram com a diminuição do valor salarial e com a possível redução da qualidade das produções.

A IA pode, de fato, facilitar a produção de animações e jogos, mas a pergunta que fica é: a que custo? Será que, ao simplificar o processo, a qualidade das produções será comprometida? É importante lembrar que a verdadeira qualidade não está apenas na aparência visual, mas também na criatividade e originalidade do conteúdo.

Apesar das preocupações, a tecnologia de IA pode ser usada de maneira ética e responsável para melhorar a eficiência e a qualidade das produções, sem comprometer a criatividade e a originalidade do conteúdo. Cabe aos criadores e produtores de conteúdo encontrar um equilíbrio entre a tecnologia e a arte, para que a animação continue a ser uma forma de expressão artística vibrante e emocionante.